A Arábia Saudita está determinada a se tornar um polo global em inteligência artificial. Para isso, decidiu investir pesadamente em chips de IA avançados, firmando uma parceria estratégica com a Nvidia. A colaboração com a empresa norte-americana marca um novo capítulo no ambicioso plano Visão 2030, que busca transformar a economia saudita, tradicionalmente dependente do petróleo, em uma potência tecnológica e digital.
Humain será o centro nervoso da IA saudita
A empresa estatal Humain, vinculada ao Fundo de Investimento Público da Arábia Saudita (PIF), lidera essa frente de transformação. Ela será a principal operadora do projeto que implementará uma infraestrutura de IA de última geração. Essa estrutura contará com chips de IA avançados, fornecidos pela Nvidia, incluindo modelos poderosos como o GB200 Grace Blackwell. Estima-se que apenas este modelo represente mais de 18.000 unidades que integrarão os novos centros de dados do país.
Anteriormente, a Nvidia era conhecida apenas por seus chips gráficos de alto desempenho. Contudo, agora ela se posiciona como fornecedora essencial de hardware para a revolução da IA, sendo escolhida por governos que visam protagonismo nesse setor. A decisão saudita de apostar nos chips da empresa evidencia essa nova realidade.
Estrutura de dados sem precedentes
Segundo informações oficiais, o projeto da Humain contempla a construção de centros de dados com uma capacidade total de 1,9 gigawatts até 2030. Cada “fábrica de IA”, como foram apelidadas, deverá operar com capacidade de até 500 megawatts. A primeira instalação, com 46 megawatts, começará a operar já em 2025, utilizando exclusivamente chips de IA avançados da Nvidia.
Essa estrutura foi desenhada não apenas para sustentar a demanda local, mas também para posicionar a Arábia Saudita como fornecedora global de poder computacional. O país quer exportar infraestrutura de IA como um novo ativo estratégico, semelhante ao petróleo em décadas passadas.
Aliança com a AMD e investimentos bilionários
Além da Nvidia, a Arábia Saudita também firmou parceria com a AMD. Os investimentos previstos com essa segunda fabricante somam mais de 10 bilhões de dólares, destinados à construção de uma segunda infraestrutura paralela de IA. Dessa forma, o país diversifica suas fontes de hardware e reduz a dependência tecnológica de apenas um fornecedor.
Aliás, essa abordagem multipolar reflete a intenção saudita de se posicionar como independente no ecossistema global de inteligência artificial. Com base em chips de IA avançados, o país constrói uma base soberana, capaz de sustentar inovações locais e exportar tecnologia para países vizinhos e mercados emergentes.
Formação de talentos em larga escala
Para dar sustentação humana à estrutura tecnológica, a Humain e a Nvidia firmaram também um acordo para capacitar mais de 5.000 profissionais sauditas. Serão treinados engenheiros, desenvolvedores, analistas de dados e pesquisadores em áreas como machine learning, computação acelerada, robótica e simulação.
Essa iniciativa tem como objetivo garantir que os chips de IA avançados não sejam apenas máquinas operando sozinhas, mas ferramentas impulsionadas por um ecossistema local de inovação. O país quer formar talentos autônomos, capazes de criar soluções próprias com base nessa infraestrutura robusta.
Implicações geopolíticas do avanço saudita
O movimento da Arábia Saudita ocorre em um momento estratégico, em que países como Estados Unidos e China disputam a liderança global em IA. Ao construir centros de dados próprios com chips de IA avançados, o reino saudita insere-se nessa corrida como um novo ator relevante.
Além disso, a parceria com empresas ocidentais como Nvidia e AMD mostra uma inclinação diplomática do país em relação ao Ocidente, contrastando com a influência crescente da China em partes do Oriente Médio. Essa posição pode garantir ao país novos aliados políticos e comerciais no futuro.
Desafios na implementação tecnológica
Apesar dos investimentos bilionários e das parcerias estratégicas, o projeto enfrenta alguns desafios significativos. Um dos principais obstáculos será a garantia de fornecimento contínuo dos chips de IA avançados, dado o alto nível de demanda global e a escassez de componentes semicondutores.
Outro ponto crítico é a integração eficiente entre a infraestrutura tecnológica e o ecossistema educacional. Será necessário adaptar universidades, centros técnicos e escolas para formar os profissionais que utilizarão essa tecnologia. Caso contrário, a Arábia Saudita corre o risco de ter uma estrutura moderna sem mão de obra qualificada para operá-la.
Projeção para os próximos cinco anos
Analistas preveem que, até 2030, a Arábia Saudita poderá se tornar um dos cinco principais centros de dados do mundo, graças ao investimento em chips de IA avançados. Se alcançar essa meta, o país terá um novo modelo econômico baseado em conhecimento, computação e inovação.
Em cinco anos, espera-se que os primeiros produtos e serviços criados por startups locais com base nesses chips comecem a ser exportados. Isso poderá gerar uma nova fonte de receita para o país, reduzindo ainda mais a dependência do petróleo.
Fonte: The-Decoder